Martes, 05 Octubre 2021

El Uruguay en los ojos de una "brasileira"

Toda visita ao Uruguai poderia começar por Colônia do Sacramento, não só por ser o lugar onde nasceu o país, mas também por ter sido criada por Manuel Lobo, na época governador da Capitania Real do Rio de Janeiro.

por Sylvia Leite

Semelhante a nossas cidades históricas em muitos aspectos, diferencia-se pelo fato de abrigar simultaneamente as culturas de seus dois colonizadores: Espanha e Portugal representados, respectivamente, por Argentina e Brasil que disputaram o local por mais de cem anos.

Seguindo os rastros brasileiros, podemos eleger como um dos principais pontos de Colônia a Plazuela del Gentilhombre, onde nasceu Hipólito José da Costa, o homem que fundou o jornal brasileiro ‘Correio Braziliense’, que está entre os primeiros de nossa história. Nessa praça, entre as placas comemorativas, há uma homenagem a Hipólito feita pela Associação Brasileira de Jornalistas Especializados em Turismo – ABRAJET.

Mas obviamente, nem tudo é brasileiro por alí e se o critério for antiguidade, o primeiro ponto a ser visitado deve ser a Calle de los suspiros, a mais antiga ainda preservada e que tem esse nome porque abrigava a zona de prostituição.

Em uma atmosfera poética e nostálgica, Colônia do Sacramento oferece ao viajante inúmeras possibilidades. Passeios tranquilos pela orla ou pelas ruas antigas, monumentos históricos, restaurantes com mesinhas na calçada de onde se pode admirar os casarios e vários museus.

Em frente ao mar, uma pequena casa portuguesa do século XVII traz uma grata surpresa: o minúsculo museu dos azulejos que abriga exemplares franceses, catalães e uruguaios, estes últimos da década de 1840 – os mais antigos fabricados no país. Para visitá-lo, é preciso adquirir um pacote completo que inclui entradas para os outros museus da cidade.

Punta del Este

O segundo destino poderia ser Punta del Este.

Se para quem gosta de mar, é agradável e atraente andar por um caminho que vai dar na orla, ou na ‘rambla’, como dizem os falantes de Espanhol, o que dizer de ruas que levam à ‘rambla’ nas duas direções?

As praias El Emir, Puerto e Los Ingleses, em Punta del Este são assim. E mais: cada uma dessas ruas se estende apenas por alguns quarteirões, o que torna a dupla presença da água visível a olho nu.

Passear pelas ruas que oferecem a dupla promessa de mar poderia ser a razão da visita, e me parece o grande diferencial de Punta, mas os uruguaios não se contentaram com essa riqueza natural e resolveram oferecer ao viajante outras prazeres mais convencionais.

Nas ruas, bares, restaurantes e lojas de marcas internacionais garantes um movimento efervescente durante todo o verão. Nos espaços internos, reluzem os cassinos que fizeram a fama do lugar. De quebra, a possibilidade de visitar localidades ou monumentos próximos como Piriápolis e Casapueblo.

Piriápolis

Menor e menos famosa que Punta del Este, Piriápolis é outro balneário localizado no mesmo departamento de Maldonado. Assim como Punta, ferve no verão e mergulha na tranquilidade o resto do ano. Também oferece praias e cassinos, mas as semelhanças terminam aí. Piriápolis foi construída no início do século XIX por um visionário que planejou seu traçado com base em conhecimentos de Alquimia e ergueu um hotel repleto de símbolos iniciáticos. As referências alquímicas espalham-se por toda a cidade e atraem ao local viajantes interessados em temas esotéricos.

Um dos pontos de maior concentração desses símbolos é o Argentino Hotel, um prédio de seis andares, com mais de 300 quartos, construído ao longo de dez anos pelo empresário Francisco Piria. O hotel preserva até hoje a estrutura arquitetônica, vitrais, lustres e até os móveis importados da Chevoslovaquia.

O nome Piriápolis foi inicialmente um apelido debochado criado por jornalistas na época em que a cidade estava em projeto. Como não acreditavam em sua concretização, a batizaram como a cidade de Piria, em alusão ao sobrenome de seu idealizador. Mas a cidade deu certo e, anos depois, o nome Piriápolis acabou oficializado.

Casapueblo

Na vizinha Punta Ballena, também em Maldonado, encontra-se a extraordinária Casapueblo, a ‘escultura habitável’ construída ao longo de 36 anos pelo artista plástico Carlos Páez Vilaró.

Diferente de tudo que se conhece, o lugar oferece horas de relaxamento e experiência lúdica. Lamentavelmente, menos de dez por cento de toda construção está aberta ao público. Ainda assim é possível ter um vislumbre do que foi, para Vilaró, viver entre aqueles labirintos, escadarias e varandas.

A área da visita é uma espécie de museu que reúne registros históricos da casa e obras do artista. E, por incrível que pareça, ali se pode, mais uma vez, lembrar do Brasil, seja pelas referências a Vinícius de Morais, ou pelo que mostra a fotografia aérea da construção.

Chegou a hora de conhecer a capital.

Montevidéu

O viajante acostumado a visitar grandes capitais talvez caia na armadilha de considerar Montevidéu um lugar sem grandes atrativos. A cidade é pequena, com poucos pontos turísticos, os taxis são velhos e apertados, e aparentemente nada surpreende. Mas talvez esteja aí uma de suas grandes qualidades.

Com apenas um milhão de habitantes, a cidade tem um ritmo tranquilo que nos faz voltar no tempo. Ideal para descansar e passear na praia, comendo carne de qualidade a preços razoáveis e bebendo vinho de primeira a baixo custo.

O fato de ter poucos pontos turísticos também parece uma vantagem. Em vez de fazer visitas apressadas para dar tempo de conhecer tudo, em Montevidéu é possível, por exemplo, dedicar dias inteiros a passear na rambla, acompanhando a incrível Tira del Tiempo que, por meio de marcos instalados na calçada, conta a história da vida; ou reservar pelo menos uma noite para assistir uma peça no teatro Solis.

Visitar museus com calma também pode ser uma experiência inspiradora. E Montevidéu tem alguns que merecem atenção. O mais interessante deles, por seu caráter inusitado, talvez seja o Castelo Pittamiglio, localizado na Rambla Gandhi.

O exótico edifício, construído pelo alquimista Humberto Pittamilgio para ser sua moradia, atravessa todo o quarteirão. A entrada do museu, do lado da rambla, corresponde à parte dos fundos, que na época da construção dava acesso diretamente ao rio. A parte frontal da casa, na rua Francisco Vidal, hoje dá acesso a um restaurante que está separado do museu, mas também mantém a aparência original.

Explorar as duas partes do castelo é uma experiência tanto lúdica como onírica, já que somente em sonhos conseguimos ter contato com construções tão intrigantes.

Rocha

Da fantasia de Pittamilgio pode-se partir para um contato com a natureza em Rocha, departamento uruguaio com 180 km de praias oceânicas. De julho a outubro, algumas dessas praias abrigam espécimes da baleia-franca-austral que permanecem ali para procriar. O espetáculo pode ser visto em diversos pontos da orla.

Além da observação de baleias, o litoral de Rocha oferece tranquilidade, aventuras e cavalgadas. Em La Pedreira, bancos ao longo da orla convidam à contemplação. Já as

 

praias La Moza, Playa del Barco, Playa Grande e Las Achiras localizam-se dentro do Parque Nacional de Santa Tereza, onde existe uma estrutura de turismo bem desenvolvida com camping, cabanas, bares restaurante e museu. O parque abriga também a Fortaleza de Santa Tereza, construída em 1762, que nos transmite uma paz semelhante à dos conventos franciscanos.

Rocha é o departamento uruguaio que faz fronteira com o Brasil e é para lá que vamos a seguir.

Chuy

Quem não se lembra do que estudamos na escola sobre os pontos extremos do Brasil? É difícil chegar ao Chuy e ficar indiferente ao fato de termos alcançado aquele lugar do mapa que, de tão distante, sempre nos pareceu um ponto abstrato.

Impossível não se perguntar como será a vida dos que, apenas atravessado a rua, encontram-se em outro país. Provavelmente alguns deles cruzam todo dia a fronteira para ir trabalhar. E como andarão os dois idiomas nesse encontro permanente de falares? Impossível obter respostas em uma visita de poucas horas.

As duas cidades são separadas apenas por uma avenida com um canteiro central. Do lado brasileiro, chama-se avenida Uruguai e do lado uruguaio, chama-se avenida Brasil.  

Os turistas costumam ir ao Chuy uruguaio para fazer compras nos free shops. Também fui as compras, que não sou de ferro, mas demorei um pouquinho menos que os outros para finalizar a visita com uma foto da avenida fronteiriça que une e separa a Chuy uruguaia da Chuí brasileira.

Periodista Sylvia Leite, autora do blog Lugares de Memória

L/D

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